Elaborada por Ir. Valéria Andrade Leal
Ambiente: capela com os bancos ao redor deixando um grande espaço ao centro da nave. Pode haver plantas, tocos para sentarem-se os discípulos, pedras, poço com água e outras coisas rústicas. Penumbra. Velas, de preferência. O altar deve estar escondido por uma cortina e preparado um único pão, bem grande. Usaremos projetor.
Na escada, na entrada da capela, um crucifixo iluminado e os dois discípulos tristes “jogados” aos seus pés. Os professores entram na capela. As portas se fecham fortemente....
Dir. - (pausadamente) A porta se fechou!!! A esperança foi embora. Ele morreu.
Entram os discípulos conversando, com ar tristonho e às vezes irado, vão andando pelo cenário.
Cléofas – Não dá para acreditar. Tudo aconteceu de forma tão rápida.
Mulher1 - Mas parece que durou uma eternidade.
Cléofas - Achei que Ele iria libertar-nos. Até quando teremos que agüentar esses romanos?!
Mulher - Mas o Senhor Javé há de ter piedade de nós. Ele não pode esquecer sua aliança.
Senta-se e continuam conversando.
Cléofas – Sabe, mulher, acho que quem errou foi eu. Onde já se viu largar tudo lá em Emaús para ir atrás desse tal... Eu fui um burro mesmo. E ainda te trouxe comigo.
Ela reage.
Mulher – Mas Ele era grande!!! Poderoso!!! Seu olhar … (seu olhar se perde nas lembranças)
Cléofas - Mas olha como tudo acabou?! Foi uma vergonha. Espero que agora ninguém venha atrás de nós. Aqueles que o conheceram desde a Galiléia estão morrendo de medo. Temos que voltar é logo para casa. Foi tudo um fracasso.
Mulher – (sem dar muita atenção á fala de Cléofas) Você se lembra de quando Ele curou aquela mulher a tanto tempo encurvada? E de quando Ele fez o tal Bartimeu enxergar! Seus olhos brilhavam quando Ele falava de Javé ou quando nos ensinou a orar.
Cléofas – (refletindo e acalmando-se) É… Pai Nosso, que estás nos céus…
Mulher – (Ela levanta-se e entusiamadamente) Como Ele nos tratava bem. E as crianças?! Queria-as sempre consigo. Jamais vou esquecer quando ele salvou aquela mulher da morte. Ante tantos homens com pedras nas mãos… Ele… Ele… Ele tinha autoridade!!!
Cléofas – (Levanta-se) Seus ensinamentos nos enchiam de esperança. Nossos chefes não podiam tê-lo matado assim. Se o tivessem visto lavar nossos pés… Talvez tivessem compreendido.
Entra, pela frente da capela, uma mulher declamando o texto. Ela pode ter um cântaro em mãos e deixá-lo perto do poço enquanto fala.
O Lava-pés... Um gesto apenas?
Talvez seja assim para muita gente...
Mas para Cristo, Não.
Para ele, o gesto não é só encenação.
É muito mais do que isso...
Mais do que ensinamento até...
É vida...
LAVAR OS PÉS...
que quer dizer isso para nós ?
LAVAR OS PÉS...
é dobrar-se à angústia de um irmão,
é suavizar-lhe a dor
ao invés de torná-la mais atroz
impondo-lhe a dor da solidão.
LAVAR OS PÉS...
é reconhecer a dignidade de nosso irmão,
fazer com que ele se sinta pessoa humana,
irmão e companheiro de viagem,
filho de Deus e herdeiro de um Reino
que o sangue de Cristo nos mereceu...
LAVAR OS PÉS...
É ter a coragem de por-se à sua disposição
e dizer-lhe sem reserva:
“Amigo, pode contar comigo”.
LAVAR OS PÉS...
não é ficar de pé de braços cruzados,
indiferente ao que se passa ao redor de nós...
É dizer com generosidade: “Tenho tempo”.
É participar da vida com a nossa vida.
É ter a coragem de comprometer-se...
LAVAR OS PÉS...
é assumir funções e cargos na comunidade,
não como um pedestal,
para satisfazer seu orgulho, sua vaidade,
seus amor próprio, ou pior, seus interesses...
Mas para servir,
para promover o bem comum
a paz das famílias
o progresso da comunidade...
para ajudar os pobres e carentes
a terem condições mais dignas de vida...
LAVAR OS PÉS...
é o carinho do esposo
que sabe respeitar a esposa
em sua dignidade de mulher...
É ser amigo... sincero e fiel,
considerá-la seu complemento
na alegria e no sofrimento...
AMIGOS, não lhes parece
que está na hora de também nós iniciarmos
a famosa operação “Lava-pés”,
iniciada por Cristo ?
Dir. – Nós hoje somos convidados a lavar os pés uns dos outros. De quem eu preciso e quero lavar os pés? Convidar para que espontaneamente cada um possa lavar os pés de alguém.
Cléofas - Como pode alguém tão bondoso ser tratado daquele jeito? Ele que pecado algum cometeu...
Entra um profeta com pergaminho e declama solenemente
(Is 53,3-12) Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.) Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-lhe dada sepultura ao lado de fascínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada. Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades. Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.
Dir. – João, ao escrever o Evangelho declara que (Jo 3,16) “de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” Isaías, já declarava, 500 anos antes, que o Servo de Javé sofreria por amor a nós. Ele enfrentou todas adversidades...
Cléofas – E foi até as últimas consequências.
Mulher – Quem poderia imaginar? Como pode alguém enfrentar tanta dor!
Uma gravação pode ser a voz de Jesus.
Jesus – Que andam falando pelo caminho? Por que estais tão tristes?
Cléofas – Será que existe um forasteiro em Israel que ainda não sabe o que aconteceu por estes dias?
Jesus – Que foi?
Cléofas - (Lc 24, 19-24) A respeito de Jesus de Nazaré... Era um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo. Os nossos sumos sacerdotes e os nossos magistrados o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele quem havia de restaurar Israel e agora, além de tudo isto, é hoje o terceiro dia que essas coisas sucederam. É verdade que algumas mulheres dentre nós nos alarmaram. Elas foram ao sepulcro, antes do nascer do sol; e não tendo achado o seu corpo, voltaram, dizendo que tiveram uma visão de anjos, os quais asseguravam que está vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam assim como as mulheres tinham dito, mas a ele mesmo não viram.
Jesus - (Lc 24, 25-26) Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória?
Dir. – Somos de fato, tardos e lentos de coração. Às vezes, custamos para entender os projetos de Deus. Falta-nos a fé!!! No mais profundo silêncio, peçamos que o Senhor nos faça compreender e reconhecer sua ação em nossa história.
Pausa
No telão, a imagem de Jesus partindo o pão – filme. A cortina que cobria o altar é retirada. Os dois discípulos se assustam e reconhecem a Jesus. Alegram-se e rumam à Jerusalém para anunciar aos discípulos o que presenciaram.
Cléofas – Vamos, mulher! Vamos contar aos outros?
No meio do caminho…
Mulher – E se eles não acreditarem em nós? Já não acreditaram na palavra das mulheres que viram o sepulcro vazio.
Cléofas – E nem ao menos nós acreditamos. Para reconhecermos a ação de Deus precisamos nos despir de nossos preconceitos e de nossas dúvidas, de nosso orgulho e de nossa vaidade.
Começam a tirar as roupas de teatro. Começa o filme com imagens de pessoas de todos os jeitos. A voz de Jesus narra o texto.
Despir-se dos preconceitos para me acolher
Nos pobres, nos marginalizados, nos sem terra, sem pão, sem lar, sem dignidade.
Nos jovens perdidos, que esperam que alguém lhes mostre a direção.
Nas mulheres “fáceis”, e nos homens “difíceis”.
Despir-se de orgulho, de egoísmo, de vaidade… Para me reconhecer. Onde?
No rosto dos que te traíram, te caluniaram, naqueles que não te compreenderam. Em mim, bateram, açoitaram-me, feriram-me, fui terrivelmente assassinato. O que fiz? Que te fizeram que foi tão mau?
Ah! É preciso despir-se do orgulho para ir ao encontro daqueles que, mesmo você não querendo, são seus irmãos.
O que fizerem ao menor, a mim o fizeste.
Os personagens passam a ser os dirigentes.
Mulher – O gesto de partir o pão é o que faz com que os discípulos reconheçam ao Senhor. Este, foi precedido pelo gesto de acolhida deles que convidaram um forasteiro a estar em sua mesa.
Cléofas – Jesus se faz presente na partilha, não apenas do pão, mas da vida: dores e alegrias.
Pegam o pão do altar para partilharem.
Dir. – Partilhando este pão, desejemo-nos a paz. E façamos deste, um gesto de comunhão.
1 Há estudos que defendem que o segundo discípulo, na caminhada de Emaús, seria a esposa de Cléofas. O que se justifica pela omissão do nome e a passividade deste.
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